Dicotomia é a divisão de um elemento em duas partes, em geral contrárias, como a noite e o dia, o bem e o mal, o preto e o branco, o céu e o inferno. Com origem no grego dikhotomía, indica uma classificação fundamentada na dualidade entre dois elementos, aqui pautada nas divergências e diversidades das ideias.
terça-feira, 2 de agosto de 2016
sexta-feira, 10 de junho de 2016
Por Ayerton Júnior.
Resposta:
Segundo a doutrina, existem 3 métodos distintos, qualificados como teorias, que
servem, cada uma da sua maneira, para estabelecer a forma normativa mais
bénefica ao empregado quando existir mais de uma norma aplicavel a sua situação
em um mesmo momento.São elas:
A Teoria Atomista ou
Acumulação, que pega o que cada uma possui de melhor, criando ao final uma
terceira norma favorável ao empregado.
A Teoria do
Comglobamento, que prega a análise das
normas individualmente e por completo, para que depois se escolha aquela que,
no seu conjunto, é a mais favorável, e que portanto deverá ser aplicada por
inteira e não de forma fracionada.
E a Teoria da
Incindibilidade dos Institutos, que prega a comparação entre as normas,
entretanto, ao invés de se escolher todo o melhor conjunto, deve-se optar pelos
institutos mais favaráveis, aplicando os melhores “pedaços” de cada norma.
Das três, o método ou
teoria mas aceita é a Teoria do Conglobamento, adotada pela corrente
majoritária.
2) O empregado, com mais de dez anos de serviço, não
optante pelo regime do FGTS, adere ao programa de demissão voluntária ou
incentivada, renunciando ao direito à estabilidade no emprego e transacionando
seu tempo de serviço, mediante o recebimento das verbas prometidas.
Posteriormente, ajuíza reclamação trabalhista, postulando diferenças de
parcelas resilitórias oriundas da estabilidade.
Pergunta-se:
- São lícitas a renúncia e a transação à luz do disposto no art. 9º da CLT?
- Faz o empregado jus as parcelas postuladas?
- São lícitas a renúncia e a transação à luz do disposto no art. 9º da CLT?
- Faz o empregado jus as parcelas postuladas?
Resposta: Só serão tidas como lícitas a luz do atr. 9º
da CLT as renúncias ou transações que versarem sobre direitos relativamente
disponíveis e desde que não haja prejuizo algum ao empregado.Aquelas que
tratarem de direito absolutamente indisponível ou que de alguma forma gerar
dano, serão tidas como nulas, podendo inclusive serem nulas de ofício pelo
Juiz.
Para saber se o
empregado fara juz a parcela postulada, resta saber de como foi feito o seu
acordo, que nada mais é que uma espécie de distrato.Se o valor recebido por ele
for compensatório ao direito que descartou, poderá o Juiz entender que não
procede o seu pedido.Entretanto, se for constatada a existência de prejuízo no
acordo, poderá sim fazer jus as parcelas postuladas.
3) - Como deve
ser enfocada a irrenunciabilidade das normas oriundas do Estado em face das
pactuadas ou negociadas coletivamente?
Resposta: Neste caso, quando há a pactuação ou negociação coletiva, o princípio da irrenunciabilidade deve ser abordado de forma flexível, uma vez que o empregado está sendo assistido por seu sindicato e o que se busca é o bem social de todo o conjunto. Fica claro que somente haverá a flexibilização, que é uma exceção ao princípio da irrenunciabliliade, quando se tratar de normas com caráter de indisponibilidade relativa, não sendo as normas de indisponibilidade absoluta passiveis de alteração ou flexibilização.
domingo, 20 de março de 2016
GUERRA FISCAL:
A APLICAÇÃO DA LEI COMPLEMENTAR Nº 24 SOB OS BENEFÍCIOS FISCAIS CONCEDIDOS UNILATERALMENTE.
- Introdução
Dentre os assuntos
de maior relevância no âmbito do Direito Tributário, certamente a guerra fiscal atualmente travada
entre os Estados ocupa espaço de destaque.
Muito
se discute a respeito do tema, principalmente quando o foco é a legalidade ou
não dos benefícios tributários concedido unilateralmente pelos entes
federativos, ocasionando em uma acirrada disputa de “caça investimentos”.
O
presente trabalho tem como objeto de estudo a possibilidade ou não destes
benefícios, com ênfase ao tributo do ICMS, abordando a forma como são tratados pelos
Estados e o que dispõe a legislação pertinente.
- Abordagem da Constituição Federal
A Constituição, em seu artigo 150, parágrafo 6°, diz:
§ 6.º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de
cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a
impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei
específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as
matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem
prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII,
E
continua no artigo 155, parágrafo 2°, inciso II e XII diz:
II -
a isenção ou não-incidência, salvo determinação em contrário da legislação:
a)
não implicará crédito para compensação com o montante devido nas operações ou
prestações seguintes;
b)
acarretará a anulação do crédito relativo às operações anteriores;
XII
- cabe à lei complementar:
g)
regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal,
isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados
Ao
estudar conjuntamente os dispositivos transcritos, se entende que, segundo a
Carta Magna, os Estados possuem autonomia para conceder benefícios fiscais de
forma unilateral, desde que tais benefícios se relacionem a impostos de sua
competência e sejam mediante leis complementares especificas, do próprio
estado.
Não
poderiam se conceder benefícios por atos diversos tais como decretos ou
convênios, visto que a atribuição é exclusiva do Poder Legislativo e não
suportaria outra forma senão por lei.
3.
Exceção a
regra: A Lei Complementar n°24 e o atual posicionamento do STF
No
recente informativo de n° 629, referente ao período de 30 de maio a 03 de junho
de 2011, O STF tratou amplamente sobre a guerra fiscal entre estados e o pacto
federativo.
Segundo
o entendimento do STF, na regra de que isenções, incentivos e benefícios
fiscais somente serão válidos quando concedidos mediante lei complementar
incide a exceção, se estiverem relacionados ao ICMS, conforme a lei
complementar 24/75.
Rezam
os artigos 1°e 8° da Lei complementar n° 24/1975:
Art. 1º - As isenções do
imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias serão
concedidas ou revogadas nos termos de convênios celebrados e ratificados pelos
Estados e pelo Distrito Federal, segundo esta Lei.
Parágrafo único - O disposto
neste artigo também se aplica:
I - à redução da base de
cálculo;
II - à devolução total ou
parcial, direta ou indireta, condicionada ou não, do tributo, ao contribuinte,
a responsável ou a terceiros;
III - à concessão de créditos
presumidos;
IV - à quaisquer outros
incentivos ou favores fiscais ou financeiro-fiscais, concedidos com base no
Imposto de Circulação de Mercadorias, dos quais resulte redução ou eliminação,
direta ou indireta, do respectivo ônus;
V - às prorrogações e às
extensões das isenções vigentes nesta data.
Art. 8º - A inobservância dos
dispositivos desta Lei acarretará, cumulativamente:
I - a nulidade do ato e a
ineficácia do crédito fiscal atribuído ao estabelecimento recebedor da
mercadoria;
Il - a exigibilidade do
imposto não pago ou devolvido e a ineficácia da lei ou ato que conceda remissão
do débito correspondente.
Seguindo tal posicionamento, nos
12 (doze) julgamentos apresentados, o STF declarou a inconstitucionalidade das
questionadas leis sob o argumento de que os benefícios referentes ao ICMS não
serão validos quando concedidos exclusivamente por Lei estadual, sendo
necessária a celebração de convênios interestaduais, como expresso nas
seguintes jurisprudências:
PROCESSO OBJETIVO – AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE – ATUAÇÃO DO ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO. Consoante dispõe a
norma imperativa do § 3º do artigo 103 da Constituição Federal, incumbe ao
Advogado-Geral da União a defesa do ato ou texto impugnado na ação direta de
inconstitucionalidade, não lhe cabendo emissão de simples parecer, a ponto de
vir a concluir pela pecha de inconstitucionalidade. ICMS – BENEFÍCIO
FISCAL – ISENÇÃO. Conflita com o disposto nos artigos 150, § 6º, e 155, § 2º,
inciso XII, alínea “g”, da Constituição Federal decreto concessivo de isenção,
sem que precedido do consenso das unidades da Federação. ADI 2376 /
RJ.RIO.DE.JANEIRO.AÇÃO.DIRETA.DE.INCONSTITUCIONALIDADE.Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO.Julgamento:
01/06/2011 Órgão
Julgador: Tribunal Pleno
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE –
TRATAMENTO TRIBUTÁRIO PREFERENCIAL – AUSÊNCIA DE CONSENSO DAS UNIDADES DA
FEDERAÇÃO – ADEQUAÇÃO. Mostra-se adequada a ação direta de
inconstitucionalidade quando há tratamento tributário diferenciado em lei da
unidade da Federação, sem remissão a consenso entre os demais Estados.
TRIBUTO – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE – DELEGAÇÃO AO PODER EXECUTIVO – ALÍQUOTA –
IMPROPRIEDADE. Surge discrepante da Constituição Federal lei por meio da
qual se delega ao Poder Executivo fixação de alíquota de Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, pouco importando a previsão, na
norma, de teto relativo à redução. PROCESSO OBJETIVO – AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE – ATUAÇÃO DO ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO. Consoante dispõe a
norma imperativa do § 3º do artigo 103 da Constituição Federal, incumbe ao
Advogado-Geral da União a defesa do ato ou texto impugnado na ação direta de
inconstitucionalidade, não lhe cabendo emissão de simples parecer, a ponto de
vir a concluir pela pecha de inconstitucionalidade. TRIBUTO – “GUERRA
FISCAL”. Consubstancia “guerra fiscal” o fato de a unidade da Federação reduzir
a alíquota do ICMS sem a existência de consenso, mediante convênio, entre os
demais Estados. ADI 3674 / RJ - RIO DE JANEIRO AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADERelator(a): Min. MARCO AURÉLIOJulgamento:
01/06/2011 Órgão Julgador: Tribunal Pleno
PROCESSO OBJETIVO – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
– ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO – ATUAÇÃO. Consoante dispõe o § 3º do artigo 103 da
Constituição Federal, o Advogado-Geral da União atua, na ação direta de
inconstitucionalidade, como curador da norma atacada. BENEFÍCIO FISCAL –
CONSENSO. A disciplina de benefício fiscal pressupõe consenso entre os Estados
– artigo 155 da Carta da República. ADI 4457 / PR - PARANÁ AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADERelator(a): Min. MARCO AURÉLIO.Julgamento: 01/06/2011 .Órgão
Julgador: Tribunal Pleno
E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE - INEXISTÊNCIA DE PRAZO DECADENCIAL - ICMS - CONCESSÃO DE
ISENÇÃO E DE OUTROS BENEFÍCIOS FISCAIS, INDEPENDENTEMENTE DE PREVIA DELIBERAÇÃO
DOS DEMAIS ESTADOS-MEMBROS E DO DISTRITO FEDERAL - LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS
AO PODER DO ESTADO-MEMBRO EM
TEMA DE ICMS (CF, ART. 155, 2., XII, "G") - NORMA
LEGAL QUE VEICULA INADMISSIVEL DELEGAÇÃO LEGISLATIVA EXTERNA AO GOVERNADOR DO
ESTADO - PRECEDENTES DO STF - MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA EM PARTE. AÇÃO DIRETA
DE INCONSTITUCIONALIDADE E PRAZO DECADENCIAL: O ajuizamento da ação direta de
inconstitucionalidade não esta sujeito a observancia de qualquer prazo de
natureza prescricional ou de caráter decadencial, eis que atos
inconstitucionais jamais se convalidam pelo mero decurso do tempo. Súmula 360.
Precedentes do STF. DIREITO DE PETIÇÃO E AÇÃO DIRETA: O direito de petição,
presente em todas as Constituições brasileiras, qualifica-se como importante
prerrogativa de caráter democratico. Trata-se de instrumento
jurídico-constitucional posto a disposição de qualquer interessado - mesmo
daqueles destituidos de personalidade jurídica -, com a explicita finalidade de
viabilizar a defesa, perante as instituições estatais, de direitos ou valores
revestidos tanto de natureza pessoal quanto de significação coletiva. Entidade
sindical que pede ao Procurador-Geral da Republica o ajuizamento de ação direta
perante o STF. Provocatio ad agendum. Pleito que traduz o exercício concreto do
direito de petição. Legitimidade desse comportamento. ICMS E REPULSA
CONSTITUCIONAL A GUERRA TRIBUTARIA ENTRE OS ESTADOS-MEMBROS: O legislador
constituinte republicano, com o proposito de impedir a "guerra
tributaria" entre os Estados-membros, enunciou postulados e prescreveu
diretrizes gerais de caráter subordinante destinados a compor o estatuto
constitucional do ICMS. Os princípios fundamentais consagrados pela
Constituição da Republica, em tema de ICMS, (a) realcam o perfil nacional de
que se reveste esse tributo, (b) legitimam a instituição, pelo poder central,
de regramento normativo unitario destinado a disciplinar, de modo uniforme,
essa espécie tributaria, notadamente em face de seu caráter não-cumulativo, (c)
justificam a edição de lei complementar nacional vocacionada a regular o modo e
a forma como os Estados-membros e o Distrito Federal, sempre após deliberação
conjunta, poderao, por ato próprio, conceder e/ou revogar isenções, incentivos
e benefícios fiscais. CONVENIOS E CONCESSÃO DE ISENÇÃO, INCENTIVO E BENEFICIO
FISCAL EM TEMA DE ICMS :
A celebração dos convenios interestaduais constitui pressuposto essencial a
valida concessão, pelos Estados-membros ou Distrito Federal, de isenções,
incentivos ou benefícios fiscais em tema de ICMS. Esses convenios - enquanto
instrumentos de exteriorização formal do previo consenso institucional entre as
unidades federadas investidas de competência tributaria em matéria de ICMS -
destinam-se a compor os conflitos de interesses que necessariamente resultariam,
uma vez ausente essa deliberação intergovernamental, da concessão, pelos
Estados-membros ou Distrito Federal, de isenções, incentivos e benefícios
fiscais pertinentes ao imposto em
questão. O pacto federativo, sustentando-se na harmonia que
deve presidir as relações institucionais entre as comunidades politicas que
compoem o Estado Federal, legitima as restrições de ordem constitucional que
afetam o exercício, pelos Estados-membros e Distrito Federal, de sua
competência normativa em tema de exoneração tributaria pertinente ao ICMS. MATÉRIA
TRIBUTARIA E DELEGAÇÃO LEGISLATIVA: A outorga de qualquer subsidio, isenção ou
crédito presumido, a redução da base de calculo e a concessão de anistia ou
remissão em matéria tributaria só podem ser deferidas mediante lei especifica,
sendo vedado ao Poder Legislativo conferir ao Chefe do Executivo a prerrogativa
extraordinária de dispor, normativamente, sobre tais categorias tematicas, sob
pena de ofensa ao postulado nuclear da separação de poderes e de transgressão
ao princípio da reserva constitucional de competência legislativa. Precedente:
ADIn 1.296-PE, Rel. Min. CELSO DE MELLO. ADI 1247 MC / PA - PARÁ MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADERelator(a): Min. CELSO DE
MELLOJulgamento:
17/08/1995 Órgão
Julgador: Tribunal Pleno
Portanto,
quando se trata de benefícios referentes ao ICMS, ainda que se trate de imposto
estadual, somente serão convalidados quando concedidos por convênios celebrados
no CONFAZ, não sendo aceita nem mesmo a regra geral, que é por meio de lei
complementar, prevalecendo os requisitos formais do artigo 2° da LC 24/75:
Art. 2º - Os convênios a que
alude o art. 1º, serão celebrados em reuniões para as quais tenham sido
convocados representantes de todos os Estados e do Distrito Federal, sob a
presidência de representantes do Governo federal.
§ 1º - As reuniões se
realizarão com a presença de representantes da maioria das Unidades da
Federação.
§ 2º - A concessão de
benefícios dependerá sempre de decisão unânime dos Estados representados; a sua
revogação total ou parcial dependerá de aprovação de quatro quintos, pelo
menos, dos representantes presentes.
- Princípio da Separação dos Poderes
Para que haja a efetividade
do nosso sistema tributário, é fundamental que concomitantemente exista
harmonia entre os poderes federativos.
No
modelo idealizado por nossa Constituição, estipulou-se o sistema tricípite, onde,
adequando as atribuições de cada um a matéria estudada, caberia ao Poder
Legislativo criar e regulamentar os tributos mediante leis; ao Poder Executivo
exigi-los e ao Poder Judiciário controlar a sua constitucionalidade.
Entretanto,
o cenário atual é bem diferente do almejado. Passa-se por verdadeira crise nas
separações dos poderes, onde o executivo legisla cada vez mais, utilizando
erroneamente medidas provisórias, decretos, portarias, ordens de serviços e
demais instrumentos que lhes é atribuído.
O
judiciário, adotando o denominado ativismo jurídico, vem dando interpretações
próprias em seus julgados, adotando entendimento diverso ao pretendido pelo
legislador, ao criar novas jurisprudências de acordo com seu próprio
entendimento, que por ventura passam a ter força de lei.
Já
o legislativo, por conseguinte, interfere na jurisprudência consolidada pelo
judiciário, utilizando do seu não atribuído cunho julgador, alterando a
legislação já pacificada, mediante a criação de novos dispositivos legais.
E
é nesse contexto que paira o problema de nosso interesse, no que trata do desrespeito
dos Estados membros ao principio da separação dos poderes, no que tange a
concessão de benefícios fiscais vinculados ao ICMS.
- Síntese do problema
A
competência da tributação do consumo no Brasil é bastante criticada, uma vez
que foi dividida entre União Federal, Estados e Município.
A
União coube a tributação da comercialização de produtos industrializados,
através do IPI, aos Estados e Distrito Federal a tributação da comercialização
geral dos produtos e mercadoria pelo ICMS e aos municípios a tributação da
prestação de serviços utilizando do ISS.
As
críticas ocorrem por ser o ICMS um imposto de competência tributária estadual,
dado o seu caráter nacional, já que está diretamente atrelado a capacidade
financeira estatal, bem como por sua interferência direta nas economias dos
entes estaduais, sendo por vezes utilizado na competição econômica entre eles.
Sendo
assim, um imposto de nítido caráter nacional, foi atribuído a 26 estados mais o
Distrito Federal, existindo por
conseguinte, 27 ICMS diferentes em todo o país, ao invés de um único, como
haveria de ser.
O
resultado do mau uso da competência dos Estados no que diz respeito ao ICMS, é
a instabilidade na harmonia da federação, em decorrência da guerra fiscal,
motivada pelas alterações unilaterais dos assuntos que dizem ao referido
imposto.
E
o problema fica ainda maior, já que não concordam os Estados e nem os
Municípios com a criação do imposto único, pois perderiam a competências a eles
originalmente atribuídas em favor da União, ficando prejudicada a tão
necessária reforma tributária.
- Neutralidade da carga tributária
Para
que se tenha um sistema tributário justo e eficaz, é preciso que entre os
Estados membros, exista a chamada neutralidade da carga tributária, que é
brilhantemente definida pelo Professor Eduardo Maneira: (in Revista Internacional do Direito tributário.vol 4,julho/dezembro de
2005)
“Neutralidade significa que o que norteia o mercado são a s leis da livre concorrência e da competitividade – e nisto a carga tributária deve ser indiferente. O empresário na hora de decidir
Contudo,
o que se verifica é a atual auto-flagelação dos Estados, que, na disputa de quem
reduz mais a carga tributaria na busca de atrair maiores investimentos, usam equivocadamente
a sua competência sobre o ICMS, destruindo a neutralidade do imposto sobre o
consumo em prol da guerra fiscal.
- Do desrespeito ao Princípio da
Separação dos Poderes e da LC 24/75
Abordado
todo o entorno da situação, facilita a compreensão das reiteradas práticas abusivas dos Estados,
através de atos unilaterais de concessão de benefícios fiscais no que tange ao
ICMS, sob argumentação de ser tal
tributo de competência Estadual.
Como
já abordado em tópico específico, a Lei
Complementar de n° 24 é a única aplicável
no que se refere as alterações incidentes ao ICMS.
No
seu artigo 2°, ela é taxativa ao estipular que os benefícios fiscais devem ser
concedidos por convênios celebrados no âmbito do CONFAZ, em decisão unânime dos
Estados representantes.
Acontece
que, quando houver disputa entre alguns dos estados, como por exemplo, quando dois ou mais membros quiserem levar
para o seu território determinada indústria, certamente não se alcançará a unanimidade exigida pela LC
24, já que o Estado interessado votará contra o pleito do seu “concorrente”.
Por
isso, em certos casos, já sabendo que não vão conseguir aprovação no CONFAZ, preferem os Estados arriscar, criando
suas próprias leis, em desobediência ao estabelecido na LC 24.
Desobediência
que é facilitada pela inexistência de punição aos Estados pelos atos de
infração.
Existe
no artigo 8° a previsão de sansões pela inobservância do ali estipulado.
Porém,
as punições não vão para os Estados e sim para o contribuinte.
Em
linhas curtas, quem compra a mercadoria ilegitimamente beneficiada , ou seja, o
estabelecimento recebedor, não pode tomar o crédito ofertado. Já do estabelecimento
que vendeu a mercadoria, deve ser exigido o pagamento da diferença gerada pelo
benefício.
Além
do desrespeito a LC 24, os Estados vem passando por cima ainda do
princípio das separações dos poderes.
Somente
o poder judiciário tem legitimidade para declarar se o ato praticado por um
Estado é nulo ou não, decretando a sua inconstitucionalidade.
Diferente
disso, o poder executivo, através de autoridades das Secretarias da Fazenda vem
declarando a nulidade de incentivos concedidos por outros Estados, atribuindo
efeitos retroativos a estas nulidades e ferindo gravemente a separação dos
poderes.
A
declaração de nulidade, além de ser ato privativo do poder judiciário, deve ser
dada em ampla publicidade e jamais pode
ter os seus efeitos retroativos.
Por
conseguinte, por não terem as sansões previstas pela LC 24 o condão de alcançar
os Estados, continuam eles a resolverem individualmente as suas desavenças, ao
invés de recorrerem ao caminho da justiça.
O
que faz por aumentar a guerra fiscal, e não por resolvê-la, restando ao
contribuinte, maior prejudicado a busca das soluções na esfera judicial.
- O Princípio da Não Cumulatividade
A não cumulatividade é tida como o principal
instrumento da já conceituada neutralidade tributária, e ao se falar do ICMS,
está ela prevista no artigo 155 da Constituição Federal:
I-
será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa
à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas
anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal;
II -
a isenção ou não-incidência, salvo determinação em contrário da legislação:
a)
não implicará crédito para compensação com o montante devido nas operações ou
prestações seguintes;
b)
acarretará a anulação do crédito relativo às operações anteriores;
Por este
motivo, é o ICMS um imposto plurifásico e não cumulativo, incidente sobre
vendas de mercadorias em geral, mas que em um Pais de mercado integrado, sem barreiras
alfandegárias, a contra senso, tem a sua competência atribuída aos Estados
membros.
Fato
que por si só, já dificulta o alcance da neutralidade plena, dada a existências
de vários impostos, com diferentes legisladores, tornando quase que impossível
o consenso.
O
que gera também a tentação dos incentivos fiscais, que são incompatíveis com a
neutralidade.
Para
que a carga tributária seja neutra, não há como existir incentivos, pois a
simples existência dos mesmos em
um Estado já altera o valor do imposto naquele local em
detrimento dos demais.
As
isenções e os regimes de desoneração unilateralmente concedidos, representados
pela não incidência ou alíquota zero, no meio da cadeia produtiva ou da cadeia
de circulação, levam a serias distorções.
Sendo
a não comutatividade mecanismos da neutralidade, seria fundamental que o seu
conceito fosse uniforme, o que não é, visto que as divergências ocorrem até
mesmo entre os estudiosos do assunto, variando entre principio para uns, regra
constitucional para outros, e por aí vai.
Se
apegando aos Estados ao conceito que melhor lhes convém.
A
corrente majoritária entende que ao se falar em não cumulatividade, se fala em
crédito financeiro,ou seja, no sentido mais amplo possível.
Contudo,
é diversa a posição do Supremo Tribunal Federal, que interpreta que o conteúdo
mínimo da não cumulatividade é o do crédito físico e não o do crédito
financeiro.
Como
conseqüência, os Estados, adotando a posição do STF, vem fazendo uma estreita
interpretação do próprio crédito físico, não permitindo o creditamento de
produtos intermediários, em restrição do que seja produtos intermediários,
utilizando desse preceito para indiretamente conceder benefícios de tributos, fomentando
a indesejável guerra dos tributos.
- Conclusão
No que diz respeito a forma de criação de benefícios atrelados ao ICMS, não resta dúvida de que a forma
correta é a contida na Lei Complementar de n ° 24/ 75, devendo os Estados se
submeterem ao formalismo e apreço do
CONFAZ.
Questão
que, pelo menos neste momento, acaba de ser pacificada pelo STF, como
apresentado em seu informativo de n ° 629, que jogou por terra a argumentação
de que lei complementar seria suficiente para tanto.
No
entanto, ainda não existe mecanismo punitivo que atinja diretamente aos Estados
infratores, continuando a recair sobre o contribuinte o ônus da má-conduta de
seus governantes.
Ao
se buscar solução para a guerra tributária, dois pontos iniciais talvez seria
primeiro se estabelecer punições diretas aos reais infratores e não ao
contribuinte, e em um segundo plano, buscar pela uniformização de conceitos
fundamentais,mais ainda não pacificados, como é o caso da interpretação do
principio da não cumulatividade.
Enquanto
não forem resolvidas questões como estas, fica mais longe de se alcançar a tão
almejada reforma tributária, já que o caminho atualmente seguido é justamente o
contrário, levando somente a instabilidade econômica e jurídica.
sexta-feira, 11 de março de 2016
sábado, 27 de fevereiro de 2016
O ESTADO E A PRÁTICA DE GOVERNANÇAS COORPORATIVAS: ABORDAGEM DAS EMPRESAS ESTATAIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO VIGENTE.
Em vias de regra, como preceituado no art.
173, caput, da Constituição Federal, o
Estado deveria intervir diretamente na economia apenas em situações
excepcionais, de relevante interesse a coletividade ou por imperativos de
segurança nacional, definidos em lei.
Essa
intervenção direta é realizada quando o Estado cria as chamadas empresas
estatais, que podem se revestir nas modalidades de empresas públicas ou de
sociedades de economia mista, com o propósito de atuarem no domínio econômico,
como agentes, concorrendo com os particulares ou detendo o monopólio; ou,
ainda, quando o Estado cria as agências reguladoras para regularem e
fiscalizarem serviços e atividades econômicas.
Atualmente, essa intervenção do Estado,
por se tratar de situação tida como não habitual, exige o atendimento de
regras:
a. não
pode haver forma empresarial específica para o Estado, devendo-se observar
aquelas previstas em lei (art. 173, § 1º, CR/88);
b. as
empresas estatais só podem assumir duas formas, a de empresa pública - que pode
adotar qualquer forma societária prevista no Código Civil, exceto a Sociedade
Anônima - ou a de sociedade de economia mista - que somente pode adotar a forma
de Sociedade Anônima - sendo que, em ambos os casos, o Estatuto será criado por
lei;
c. o
Estado, atuando como empresa pública ou sociedade de economia mista, não pode
ter benefícios fiscais que não tenham sido concedidos ao setor privado
concorrente (art. 173, § 2º, CR/88);
d. como
sociedade de economia mista, o Estado deve necessariamente abrir seu capital.
Ainda segundo a Carta Magna, em seu Art .37,
inciso XIX, somente por lei específica se poderá criar empresa pública,
sociedade de economia mista, subsidiarias ou participações das mesmas em
empresas privadas, sendo as relações organizativas da empresa estatal de
direito administrativo em caráter superior.
A Empresa Pública se trata de pessoa jurídica direito privado, contudo administrada exclusivamente pelo poder público, instituída
por um ente estatal, com a
finalidade prevista em lei e sendo de propriedade única do Estado, que pode ser de
atividade econômica ou de prestação de serviços públicos.
É um instrumento de ação
do estado, sendo integrante da administração indireta e constituída sob qualquer das formas admitidas pelo direito, com capital formado
unicamente por recursos públicos de pessoa de administração direta ou indireta,
podendo ser da esfera federal, municipal ou estadual.
Ela tanto pode ser criada
originariamente pelo Estado como ser objeto de transformação de autarquia ou de empresa privada, dependendo
tanto a sua criação quanto a sua extinção, de prévia autorização legal específica.
Já a sociedade
de economista é Pessoa Jurídica de Direito Privado, constituída em parte por capital público e em parte por
capital privado, por isso ser denominada como mista, sendo criada somente por
Lei autorizadora, no qual permite-se que um ente público possa se associar com
particulares para a instituição da empresa.
Como requisito principal,
a parte do capital público deve ser maior, pois a maioria das ações deve estar
sob o controle do Poder Público, se diferenciando das empresas públicas, tendo em vista que
nestas o capital é 100% estatal, e das sociedades anônimas em que governo tem
posição acionária minoritária, pois nestas o controle da atividade é privado.
Outro requisito
fundamental é que somente poderá ser constituída na forma de S/A, como
estipulado pelo artigo 5º, inciso III, do Decreto Lei 200/67:"...
Sociedade de Economia Mista: a entidade dotada de personalidade jurídica de
direito privado, criada por lei para a exploração de atividade econômica, sob a
forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertencem, em sua
maioria, à União ou a entidade da Administração Indireta.
Alguns temas polêmicos envolvem a questão
de gestão das empresas publicas, bem como do seu enquadramento aos dispositivos
legais da legislação vigente, com a tendência cada vez mais forte de igualar o
tanto quanto possível o seu tratamento ao dispensado às empresas puramente
privadas, em busca da menor desigualdade de benefícios entre as duas
modalidades.
Igualdade que é buscada com a tentativa de
estender às empresas publica as práticas de governança coorporativas já
consolidadas no âmbito privado, onde o objetivo das empresas é conciliar as
aspirações da sociedade, sob responsabilidade e compromisso social.
Nessa linha, o Estado deve administrar as
suas empresas com postura ativa e atualizada, fixando e implementando politicas
de gestão, com estímulos a probidade, a transparência, a ampliação e a
compatibilização dos direitos daqueles que se relacionam com a companhia.
Tais medidas de gestão buscam de instante
imediato, a resolução de conflitos internos,
facilitar aos acionistas controladores a administração estratégica da empresa e
estabelecer normas técnicas de relacionamento, através do “código de melhores
práticas”, com ênfase na probidade, transparência, ampliação e compatibilização
dos direitos dos que relacionam com a companhia.
Este movimento de implementação das
governanças coorporativas nas empresas publicas teve inicio nos Estados Unidos,
em decorrência dos escândalos corporativos iniciados na década de 80, atingindo
seu ápice no caso da Companhia Eron, no ano de 2001, quando foram apontadas inúmeras
fraudes nos balanços contábeis, decorrentes da forma privilegiada de como a
empresa era gerida.
O que resultou na edição da Sarbanes
–Oxley Act (SOX), que impôs responsabilidade aos administradores da companhia,
das empresas de auditoria, a exigência de adoções rígidas de governanças
coorporativas relativas a auditoria externa e de conduta dos administradores.
Seguindo este direcionamento, em 2007, aqui no
Brasil, foi estabelecido Decreto 6.021, passando a União a expressamente
definir governança coorporativa como “um conjunto de práticas de gestão”,
envolvendo, entre outros, os relacionamentos, entre acionistas, quotistas,
conselhos de administração e fiscal, ou órgão com funções equivalentes,
diretoria e auditoria independentes com a finalidade de otimizar o desempenho
da empresa.
Buscou proteger os direitos de todas as
partes interessadas, com transparência e equidade, com vistas a maximizar os
resultados econômicos e financeiros das empresas estatais”.
O estado de Minas Gerais foi promissor em
adotar a visão privatista na esfera pública, ao implantar o sistema de governo denominado
“Choque de Gestão,” que privilegiava
a busca de eficiência e a administração
por resultados.
Atualmente tramita
no Congresso Nacional o Projeto de Lei do Senado de n° 555/ 215, conhecido como
“Lei Gerais das Estatais”, que tem em seu cerne a possibilidade da privatização das empresas públicas, além de
permitir que tanto as empresas públicas quanto as
sociedades de economia mista, sejam constituídas sob a forma de sociedade
anônima, aplicando-se o estipulado a todas as esferas das estatais, incidentes
às empresas públicas federais, estaduais e municipais.
As críticas ao projeto
começam por sua definição de que os conselhos de administração das estatais deverão
contar com a presença mínima de 20% de membros independentes e seus integrantes
serão impedidos de manter relações sindicais, partidárias ou de parentesco com
pessoas no comando do Poder Executivo ou da própria empresa.
Essa regra e o percentual mínimo de 20% de membros
independentes também prevalecerão para os comitês de auditoria, de indicação e
de avaliação.
Outro ponto controverso diz
respeito a origem do projeto, oriundo de proposta conjunta do
Senador Renan Calheiros e do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha,
dois constantes protagonistas dos recentes escândalos políticos envolvendo
acusações relacionadas a recebimentos de propinas.
Questiona-se
também a politica de gestão imposta, obrigando as empresas estatais a seguirem
regras de governança e controle proporcionais à relevância e ao risco do
negócio.
Se
aprovado, o novo projeto ameaçaria, por exemplo, os Correios, a Caixa Econômica
Federal, por serem empresas 100% públicas, trazendo ainda condições que alteram a composição do Banco do
Brasil, que é uma economia mista.
Fato é que não há como negar a supremacia
dos êxitos das empresas privadas se comparados aos números apresentados pelas
públicas, principalmente se for levado em conta os obstáculos impostos
unilateralmente ao campo privatista e aos privilégios reservados às entidades públicas,
balança desigual que abrilhanta ainda mais os louros das companhias privadas.
Temos hoje uma máquina estatal inchada, com
percentual considerável de ineficiência, onde muita das vezes se gasta mais do
que se arrecada, além dos desvios de finalidade de algumas companhias, que são
destinadas a objetivos particulares em benefícios a grupos restritos, colocando
em risco a própria existência da empresa, como se vivencia por exemplo, a
situação da Petrobrás, tida até pouco tempo como uma das maiores empresas do
mundo, prejudicada justamente pelos mecanismos criados para a sua
proteção, exclusivos as empresas públicas.
Diante tais circunstâncias, presume-se
estarmos vivenciando cenário semelhante ao americano, onde a legislação foi
revisada para que os vícios de gestão que contaminavam as empresas publicas de
lá fossem erradicados, e os agentes responsáveis pela má gerencia duramente
responsabilizados.
Exemplos concretos de bons resultados
já têm por aqui, como o citado “Choque
de Gestão” Mineiro. Resta agora esperar para saber se o que vai prevalecer é
realmente o interesse coletivo e a imperatividade da segurança nacional, neste contexto,
através da manutenção ou restabelecimento da ordem econômica, molas percussoras
da existência da empresas publicas.
domingo, 31 de janeiro de 2016
"ARIANO SUASSUNA", POR.ARIANO SUASSUNA!
" Tigre agachado, dragão escondido, que sem se moverem, passam despercebidos".
Um "monstro" da cultura regional, que tinha a simplicidade proporcional a sua grandeza.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
Cenário político versus ideologia – por que a sua omissão irá permitir que seus filhos se tornem “unissex”.
*Texto escrito por Leandro A. P. Silva
Medico psiquiatra
Doutor em Ciências
Embora seja tema que cause desconforto na maior parte das pessoas, a discussão
política não pode mais prescindir do posicionamento das pessoas que “não gostam
de política”, pois os que gostam de política estão passando a decidir vários
aspectos da sua vida, dentro de sua casa, com a sua família. Exemplos como a
“lei da palmada” (quando já havia leis contra o espancamento de crianças,
aliás, contra o espancamento de qualquer ser humano) e a possibilidade de ser
processado, caso seu vizinho tenha entendido de forma particular, algo que você
tenha dito, explicitam como a política já está dentro da sua casa. A política
já determina como você deve se comunicar com outras pessoas, o que pode ser
dito sem o eventual risco de um processo e como você deve educar os seus
filhos. Caso as pessoas comuns persistam alheias ao processo político
ideológico, em algum tempo o avanço sobre as liberdades individuais poderá
avançar a um ponto de decidirem o que você pode ler, escrever, escutar, comer
ou beber.
A política seria o espaço, por
excelência, para a discussão de idéias, troca de opiniões e defesa de
diferentes pontos de vista. A política também é o espaço para a discussão dos
interesses de diferentes grupos.
Ambas as formas de
exercício político são legítimas.
A primeira é ideológica – das idéias,
das proposições teóricas. A segunda
remete aos interesses primários de cada grupo. Existe uma clara hipertrofia da
segunda posição, com uma ampla cobertura do cenário político, em detrimento da discussão
sobre quais parâmetros devem ser adotados para a vida privada, sobre o papel do
Estado (por exemplo, se teria o direito de interferir na educação dada pelos pais),
ou se o governo deve determinar a vida religiosa de cada um.
Talvez por essa hipertrofia da
discussão da política partidária (cenário político), há um desinteresse
generalizado por política. Esse desinteresse acaba por gerar um resultado
óbvio: somente serão aprovadas as idéias dos poucos envolvidos em qualquer
temática, e somente esses grupos serão privilegiados.
As definições de certo e errado, do que é bom ou
ruim, da moralidade e da ética, irão seguir o grupo melhor representado
numericamente. Entretanto, somente um grupo tem se feito representado na política,
seja pelo posicionamento ideológico, seja pela defesa dos seus interesses privados.
Para entendermos melhor qual grupo é esse, temos
que explorar a concepção primária de que cada pessoa tem sobre a natureza
humana.
Podemos estabelecer duas grandes
posições conceituais sobre a natureza humana:
- Alguns acham que o ser humano é bom
por essência.
- Outros acreditam que, embora possa
ser bom, não é uma característica inata, mas sim que deva ser trabalhada.
O primeiro grupo (que acreditam numa
forma de “bondade essencial”) tende a ver as diferenças humanas como
construções sociais, em que os criminosos se tornam criminosos pelas diferenças
sociais, impostas pelo mundo, numa espécie de “falta de sorte”. Afinal, se
todos são iguais e bons, as diferenças só poderiam ser decorrentes das
imposições sociais. Por exemplo, apesar de existirem bandidos em todas as
classes sociais, acreditam que a pobreza é o que causa a violência social.
Curiosamente, esse grupo apresenta extrema dificuldade em analisar os fatos, e
perceber, por exemplo, que a renda per
capita do brasileiro quintuplicou nos últimos 35 anos, enquanto a violência
cresceu 4 vezes! Mesmo ajustando para o crescimento da população brasileira no
mesmo período, o número de homicídios mais do que dobrou. Sendo a violência uma
determinação social, mesmo que
os dados apontem em direção contrária, seria necessária uma mudança social,
talvez até uma revolução, para que a violência regrida. Todo o foco é colocado
na mudança da sociedade, apesar da sociedade (por intermédio dos dados
disponibilizados publicamente) apontar que não é a pobreza que causa a violência.
Que fique claro: não estou aqui simplesmente tecendo uma opinião. Em 1980 foram
registrados 13.910 homicídios no Brasil. Em 2014, foram mais que 52.000. Dados
do Banco Mundial evidenciam uma renda per capita evoluindo de aproximadamente
US$2.000 para mais que US$10.000. Ou seja, aumentou a renda, e a violência.
Naturalmente, alguns irão argumentar que o que aumentou foi a má-distribuição
de renda, em que os pobres ficaram ainda mais pobres, e os ricos ainda mais
ricos. Utilizemos então outros parâmetros, como o IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano), que mede a qualidade de vida e o desenvolvimento
econômico de uma nação. O IDH também cresceu no período, indo de 0,549 em 1980,
para 0,744 em 2014.
Dessa forma, a discussão beira a
desonestidade, pois, o argumento que o primeiro grupo utiliza não se sustenta,
nem mesmo segundo as estatísticas. Embora nossa historicidade já tenha dados
suficientes para responder essa questão, poder-se-ia pensar que a discussão
ocorreria por pura ignorância. Mesmo assumindo uma falsa suposição da “bondade
essencial” humana, persistir na ignorância dos fatos (crescimento da renda per capita, do IDH e da violência, ao
mesmo tempo) chega a ser absurdo.
Repetindo, são duas suposições:
1- O ser humano é essencialmente bom, e
a sociedade o corrompe;
2- O ser humano pode ser bom, ou não,
por fatores inerentes à espécie humana.
Repassando, ao se seguir a primeira
suposição, o problema da violência é social. Na resolução desse problema,
parte-se do pressuposto que a violência é oriunda da pobreza. Entretanto, o IDH
e a renda per capita avançaram, mas ainda assim, a sociedade ficou mais
violenta. Só há uma inferência lógica decorrente dessa breve análise: a
violência não é um subproduto da pobreza. O fato desse silogismo ser
contraintuitivo é um fato em si.
Ou seja, o argumento não se sustenta dentro de sua
própria tentativa de coerência teórica, e as
pessoas continuam acreditando nesse argumento!
Trata-se do homicídio da lógica!
Por que o segundo grupo, que pensa
que o ser humano não é essencialmente bom, não exige que o primeiro grupo tenha
um mínimo de coerência lógica? Por que o segundo grupo não se vê representado
politicamente?
Mas talvez seja esse um dos grandes
problemas a serem enfrentados: a falta de lógica, como matriz social.
E por que isso ocorreu? Provavelmente
porque nos interessávamos menos por discussões sociais e políticas, pois éramos
cientes da condição humana, da sua biologia, dos seus limites, e das dificuldades
inerentes à própria vida. Estivemos focados no desenvolvimento pessoal,
reservando à sociedade o fruto final dos nossos esforços, do nosso acúmulo de
conhecimento, do avanço da experiência adquirida. Sabíamos que deveríamos nos
desenvolver e ser responsáveis por nós mesmos, ao invés de responsabilizar o
outro pelas nossas próprias vidas.
O grupo que tende a ver o ser humano
como mera consequência das ações sociais, naturalmente se ocupou mais com o
desenvolvimento da sociedade e, por consequência, da política, em detrimento do
desenvolvimento individual. Embora não sejam tão numerosos na população,
ocuparam mais habilmente os espaços políticos, chegando a tornar o discurso que
vence as eleições quase uma formalidade, sem forma e sem conteúdo.
Infelizmente, erramos ao termos nos
retirado do debate ideológico.
Discutir política não é mais uma
opção: o Estado já está dentro da sua casa. Por exemplo: Caso você ache que
seus filhos não devam estudar no nosso sistema tradicional de ensino, saiba que
você não tem mais essa escolha. A frequência escolar é obrigatória. E será
nessa mesma escola, a qual o seu filho é obrigado a frequentar, que lhe será
ensinado que meninos e meninas são meras quimeras sociais, e nós somos os
algozes deles.
Enquanto quisermos nos ausentar do
debate, e não aceitarmos discutir conceitos como liberdade, tamanho do Estado e
autonomia, irão decidir por nós, à revelia.
Há de se retomar a análise dos fatos
e discussões sobre as possibilidades que o mundo oferece. Quais valores devem
pautar a vida em sociedade? Não se trata de um problema de fácil resolução,
pois a própria filosofia encontra-se em evolução constante. Todavia, embora ainda
estejamos evoluindo no processo civilizatório, algumas verdades já existem,
como as diferenças entre homens e mulheres. Já é claro que não cabe a um único
governante, ou grupo, determinar que seu filho é “unissex”, a partir de teorias
falhas, que talvez sirvam a algum outro interesse.
A nova matriz social, carente de lógica, tem
que ser questionada, revista e modificada.
Devemos defender a possibilidade de
expressão individual (também chamada de liberdade), cessar o patrulhamento
social e parar de adjetivar as pessoas em discussões ideológicas. Temos que
discutir os fatos, não as pessoas. As pessoas deixaram de lado a capacidade de
análise dos fatos, mesmo as mais esclarecidas. Não se discute mais qual é o
melhor sistema, pois toda conversa acaba se desvirtuando para a discussão da
vida dos interlocutores, ou do cenário político, em detrimento da discussão teórica.
Em qualquer conversa, o foco deve ser na discussão das idéias, e não na vida
particular dos interlocutores. As pessoas devem aprender a se defender da
personalização da discussão (do tipo argumentum
ad hominem), e se ater à análise dos fatos e da situação.
Dentro dessa retomada da lógica, ninguém
poderia admitir um argumento, em que qualquer grupo se posicionasse como
defensor da igualdade e da liberdade, ao mesmo tempo!
Ideologicamente, um conceito exclui o
outro.
Irei exemplificar tomando por base a
ideologia de gênero: conforme exposto acima, quem defende a igualdade, defende
a ideia de que os seres humanos nascem iguais, bons e puros, mas a sociedade os
corrompe. Segundo essa perspectiva, os seres humanos nascem tão iguais,
que nem mesmo existem diferenças de gênero: sexo masculino e sexo feminino
seriam invenções sociais, apesar das inúmeras provas científicas (e
observacionais) ao contrário. Os seres humanos nasceriam "unissex",
com uma pequeníssima diferença anatômica. Bastaria, portanto, criá-los de forma
"unissex", e depois "deixá-los escolherem seu sexo". Exceto
por alguns artistas, ou raras exceções (que fogem ao escopo desse texto, exceto
pela exceção que confirma a regra), a identificação com o próprio gênero (e não
me refiro aqui à orientação sexual) continua a ocorrer, em larga escala, apesar
da ideologia de gênero. Caso essa ideologia estivesse correta, já estaríamos
vendo milhares, milhões de seres misóginos (metade homem, metade mulher), o que
também não ocorreu. A determinação biológica de gênero é inequívoca. O que tem
ocorrido são mulheres e homens perdidos em qual rumo seguir, pois não conseguem
se orientar nem em relação ao próprio sexo.
Cientistas sérios não defendem a
ideia de caracteres adquiridos de Lamarck, sendo que a genética contemporânea
já deixou claro que Darwin tinha razão. A negação da heritabilidade biológica
das características humanas acabou proporcionando sofrimento e mortes
desnecessárias.
É inútil impor ao ser humano
características que não são suas. Mulher é mulher. Homem é homem. A espécie não
muda segundo o interesse ideológico de
ninguém, nem de nenhum sistema. As crianças continuam se tornando homens, ou
mulheres, na idade adulta. Por que não deixamos que elas cresçam, e nos
resguardamos a observar e aceitar suas tendências e evolução natural?
Mas não seria isso o que a ideologia
de gênero defende?
Não.
O que está sendo defendido é a
imposição de um tratamento unissex, sem respeitar os interesses naturais das
próprias crianças, ou dos responsáveis por elas, os seus pais.
Uma outra observação remete à escolha
das meninas como padrão ideal para a infância. Por que não poderiam ter sido
escolhidos os meninos? Não teriam, mulheres e homens, meninas e meninos, o
mesmo valor? Por que somente o comportamento contido, sem a energia cinética
clássica dos meninos é valorizado? Posto que essas diferenças de gênero seriam
somente sociais, por que não se tomou como padrão ideal o comportamento mais
despachado dos meninos? Ou então, por que não se assumiu os dois padrões como
adequados?
A confusão criada não está sendo
solucionada pela ideologia de gênero. Está sendo criada por ela
.
.
O mesmo ocorre com todas as outras
ideologias que o politicamente correto nos impôs.
Estamos permitindo e incentivando a
hipertrofia do poder central, com o Estado funcionando como o árbitro, e, pior ainda, como ator social,
determinando como você deve, ou não deve, educar o seu filho. O Estado não
deveria ter o poder de determinar a qual sexo pertence o seu filho ou sua filha.
E, caso o cidadão não aceite a
imposição estatal, medidas jurídicas poderão ser tomadas. Para se impor a (suposta)
igualdade, restringe-se a liberdade. Um único poder central, determinando
os valores a serem adotados, sob pena de sanções jurídicas, não me parece um
governo humanitário.
Percebe-se, portanto, que estamos
diante de uma clara confusão ideológica. Afinal, qual opção é válida, no
sentido de uma real possibilidade, e não uma mera distorção perceptiva?
a) Liberdade e Igualdade;
OU
b) Liberdade versus Igualdade.
Embora seja altamente desejável, não
é possível ter os dois.
O apelo social à igualdade e à "
justiça social " se tornou um discurso de difícil contraposição. De alguma
forma, talvez pela repetição incessante, esses conceitos foram associados, ao
mesmo tempo, a determinados grupos, ferindo completamente a lógica. Temos agora
que enfrentar esse equívoco perceptivo e ideológico, pois, para termos a
suposta " justiça social " , é necessária a intervenção estatal. São,
portanto, conceitos mutuamente excludentes. Fica claro que a gerência (ou
ingerência) do Estado nas relações interpessoais acaba por restringir as
liberdades individuais.
Ainda podemos ter pensamentos
dissonantes! Ainda podemos expressá-los! Utilizemos essa prerrogativa!
Entretanto, caso você não goste de
política, e não queira se envolver em discussões dessa natureza, saiba que o
Estado, possuidor de todo o saber, fará as suas próximas escolhas por você. Afinal,
ele já fez tantas, por que não continuar assim?
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